Economistas divergem de Lula e dizem que austeridade fiscal dá segurança à economia
Para especialistas, críticas de Lula à austeridade são vagas e descontextualizadas; economistas afirmam que responsabilidade fiscal garante segurança e prev...

Para especialistas, críticas de Lula à austeridade são vagas e descontextualizadas; economistas afirmam que responsabilidade fiscal garante segurança e previsibilidade à economia. Economistas divergiram nesta sexta-feira (4) da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que o “modelo de austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”. A declaração foi feita um dia antes, durante evento no Rio de Janeiro, em que Lula também defendeu uma nova política de financiamento sem exigências para concessão de crédito. “Vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento sem condicionalidades. O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo”, disse Lula na ocasião. Para Robson Gonçalves, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a fala não se sustenta nem na teoria nem na prática. “Não existe modelo de financiamento sem condicionalidade. Isso equivaleria a um credor emprestar sem nenhum critério, o que é incompatível com qualquer sistema financeiro viável”, afirmou. “Todo agente econômico — pessoa, empresa ou Estado — tem um limite de crédito. E esse limite está atrelado justamente à sua responsabilidade fiscal.” Lula também associou políticas de austeridade ao aumento da desigualdade: “Toda vez que se faz austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico mais rico. É isso que nós temos que mudar.” Gonçalves rebate. “Essa afirmação é genérica. Países escandinavos, por exemplo, conseguiram reduzir desigualdades mantendo responsabilidade fiscal rigorosa. Não existe correlação direta entre austeridade e desigualdade social. Há outros fatores em jogo.” Segundo ele, o discurso de Lula “parece remetido à lógica do início do século passado”. “Em 1925, teria sido uma fala progressista. Em 2025, está fora de contexto.” Lula nega 'guerra' entre governo e Congresso: 'Vamos resolver isso na negociação' Austeridade não exclui justiça social Marcus Pestana, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirmou que conceitos como “austeridade” e “expansionismo” precisam ser compreendidos dentro do contexto histórico de cada país. Ele afirmou que a teoria do economista norte-americano John Maynard Keynes, consagrada na década de 1930, não se aplica à realidade atual. Keynes defendeu os gastos públicos para impulsionar a economia após o período da grande depressão. “Keynes escreveu sobre a necessidade de estímulo em um cenário de depressão em 1929. Mas hoje o Brasil não está em recessão. Temos uma economia razoavelmente aquecida, com emprego em alta. Manter déficits sistemáticos em um cenário assim pode agravar a dívida pública”, disse Pestana. Ele destacou que a missão da IFI é técnica e apartidária: “Nosso papel é oferecer alertas com base em projeções e dados confiáveis. E, hoje, os números mostram que o atual regime fiscal é insustentável no médio prazo.” O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou nesta sexta-feira (4), da Cerimônia de anúncios de investimentos da Petrobras em Refino e Petroquímica no Rio de Janeiro, na Refinaria REDUC Petrobras, em Campos Elíseos, Duque de Caxias, RJ Carlos Elia Junior/Fotoarena/Estadão Contéudo Contexto fiscal preocupa A fala do presidente vem em meio a crescentes preocupações com as contas públicas. Em maio, o governo propôs ao Congresso adiar de 2025 para 2026 a meta de zerar o déficit fiscal. O gesto foi visto como um sinal de frouxidão na condução da política econômica, o que gerou ruídos com o mercado e pressionou o dólar e os juros. Leia também: Lula defende nova política de financiamento e afirma que modelo de austeridade 'não deu certo em nenhum país' 'País vai ter pela primeira vez um presidente eleito 4 vezes', diz Lula sobre reeleição Desde então, declarações de Lula contra o que ele chama de “austeridade” têm sido acompanhadas com atenção por economistas e investidores. “Austeridade não significa cortes insensíveis. Significa ter disciplina, previsibilidade e segurança para o país e para quem investe nele. Sem isso, não há crescimento sustentável”, disse Robson Gonçalves.